Pac-Man
No princípio era Pac-Man. Antes de Mario, antes de Sonic, antes de Donkey Kong, antes de todo mundo, quem mandava era esta pizza só de queijo e com um pedaço a menos:
“Pac-Man” foi por décadas o símbolo incontestável do universo dos games. É o jogo de arcade mais lucrativo de todos os tempos também: em menos de dez anos arrecadou mais de 1 bilhão de dólares em moedas de 25 centavos. Foi o primeiro personagem de videogame a sair das telas e se transformar em fenômeno cultural. Nos primeiros anos da década de 80 qualquer coisa poderia ser associada a Pac-Man: camisetas, cadernos, brinquedos e até macarrão e molho para macarrão. Inspirou uma capa da Time, ganhou um desenho animado produzido pela (adivinha) Hanna-Barbera e uma canção que ficou nos Top 10 da Billboard.
A criação de “Pac-Man” ocorreu em uma época em que arcades eram jogados principalmente em bares, por jovens do sexo masculino. Os hits de então eram “Space Invaders” e jogos de tiro. Toru Iwatani, funcionário da Namco, queria fazer algo diferente para atrair o público feminino. Enquanto comia uma pizza, Iwatani teve a ideia do personagem principal, que chamou de Puck-Man – o homem-disco-de-hóquei. Em seguida, bolou os inimigos, fantasminhas coloridos, e o cenário principal, um labirinto neon.
Quando os executivos da Namco viram o resultado do projeto de Iwatani, não ficaram empolgados. O foco principal deles no momento era “Rally-X”, um jogo de corrida curiosamente similar – também tinha um labirinto e também era uma perseguição. Mas decidiram lançar mesmo assim, com uma única mudança: o nome não poderia ser “Puck-Man”. Vai que o povo chama de “Fuck-Man”?
O sucesso foi tão inesperado quanto merecido. “Pac-Man” é incrivelmente divertido até hoje graças à sua mecânica que, com um mínimo de regras, é capaz de gerar infinitas estratégias. O protagonista, a bola-anteriormente-conhecida-como-Puck-Man, tem como missão comer todas as pílulas de um labirinto enquanto escapa de fantasmas – que têm nomes! São Blinky, Pinky, Inky… e Clyde. Clyde?
Quatro das pílulas são especiais e dão a Pac-Man a capacidade temporária de comer seus inimigos. É a única colher de chá que o jogo dá e é seu principal ingrediente tático: quando usar esse poder? Vale lembrar que “Pac-Man” foi, como era comum na época, desenhado como um jogo infinito baseado em pontos. Então comer os fantasmas era uma boa maneira não só de se sobreviver, mas também de se aumentar a pontuação. Parece bobo? Pois no auge do sucesso foram lançados inúmeros guias estratégicos de “Pac-Man”.
“Pac-Man” foi bem-sucedido em seu objetivo, de diversificar o público dos arcades. Graças à febre, máquinas de jogos saíram dos bares e começaram a ser instaladas em saguões de hotéis, padarias e até recepções de médicos! A história dos videogames, de uma diversão de nicho para um fenômeno pop, mudou completamente. O que não mudou foi o salário de Toru Iwatani. O criador do mais lucrativo arcade de todos os tempos continuou sendo um humilde game designer da Namco – nem bônus especial de fim-de-ano ele ganhou…
As Pac-Cópias
Provavelmente “Pac-Man” foi o jogo mais copiado de todos os tempos. Seu design simples e o sucesso estrondoso o tornaram alvo fácil dos plagiadores. A minha cópia favorita era “Oh Shit!”, do MSX, que era idêntico ao original exceto pelo nome dos fantasmas – Joey, Paul, Willy and Frankie – e pela voz sintetizada que anunciava a morte do protagonista. Confira comigo no replay:
A versão – autorizada – de “Pac-Man” para o Atari 2600 ficou famosa pelos motivos errados. A Atari comprou uma licença exclusiva do jogo para consoles caseiros logo que “Pac-Man” fez sucesso nos arcades. Mas aparentemente estava com dificuldade de portá-lo para o 2600. Anos se passavam, os fãs esperavam e nada de ser lançado. Aproveitando-se da lenga-lenga, a Philips lançou “K.C. Munchkin” para o Odyssey 2, com mecânica muito similar.
(Uma continuação, chamada “K.C.’s Krazy Chase”, foi lançada no Brasil como “Come-Come“, e até hoje muito brasileiro confunde as duas séries, chamando “Pac-Man” de “Come-Come”.)
A Atari foi à justiça e conseguiu tirar “K.C. Munchkin” de circulação. Ao mesmo tempo, acelerou o desenvolvimento de seu próprio “Pac-Man”. Quando ele enfim foi lançado, com pompa e circunstância, a surpresa geral: era uma merda fedorenta.
O caso mais interessante de pac-clonagem envolveu dois estudantes do MIT que desenvolveram uma placa de expansão para “Pac-Man”. Ela alterava algumas regras, o comportamento dos fantasmas e os gráficos (Pac ganhava pernas!). Com medo de serem processados, eles mostraram seu kit para a Midway, a distribuidora da Namco nos Estados Unidos. Cansada de esperar infinitamente por uma sequência oficial de “Pac-Man”, a Midway topou produzir a nova versão, desde que o Pac não tivesse pernas. Decidiram então transformá-lo em uma “mulher”. Assim nascia “Ms. Pac-Man“, o hack que se transformou no arcade americano mais vendido de todos os tempos.