Excitebike
Tem um montão de coisas para falar de “Excitebike”, o clássico jogo de motocross do Nintendinho. Mas só vou falar de uma.
Poderia falar sobre a caixa preta
“Excitebike” foi lançado em 1984 no Japão e foi escolhido para ser um dos 18 títulos de lançamento do Nintendo nos EUA, no ano seguinte. Como já vimos, a Big N estava muito receosa com o lançamento americano do NES, graças ao crash do mercado de videogames de 1983. O fato do seu console ter sido rebatizado como “Entertainment System” deixa bem claro o quanto a Nintendo estava evitando ser comparada aos videogames de tão má fama na época.
Um dos sinais desse cuidado revela-se na launch lineup americana do console. Todos títulos publicados pela própria Nintendo, numa seleção bem variada (abrange esportes, tiro, carros, plataforma e até educação) e que exploram bem os acessórios do NES (R.O.B., o robô, entre eles). Chama a atenção a padronização das caixinhas – todas pretas, com desenhos pixelados muito diferentes das imagens ultra fantasiosas dos jogos de Atari. A mensagem era evidente: não estamos querendo engambelar ninguém.
Adoro o minimalismo e a profunda honestidade das capas pretas do NES. Dá só uma olhada e veja se não é uma obra-prima de concisão e estilo:
Além dos 18 títulos do lançamento, mais 12 jogos do primeiro ano do Nintendinho americano ganharam design tão icônico. Logo em seguida a indústria voltou ao seu padrão engana-trouxa de sempre.
Mas não, não vou falar das caixas pretas do NES.
Poderia falar sobre a jogabilidade inovadora
A pista de jogos de corrida ou é vista em perspectiva, como em “Top Gear“, ou de longe, como em “Super Off Road“. “Excitebike” mostra a pista de lado. Sim! A progressão do carro (aqui, moto) não é vertical, como em todo e qualquer jogo desse gênero, mas horizontal, da esquerda para a direita. É esquisito: o ângulo de visão elimina qualquer possibilidade de curva e torna as motos mais parecidas com trens presos em seus trilhos, eternamente na mesma direção.
Não é só isso. Em jogos de corrida tradicionais o botão de acelerador está sempre apertado, salvo em algumas curvas mais acentuadas. “Excitebike” é uma reta sem fim, mas mesmo assim o jogador não pode se dar ao luxo de acelerar o tempo todo – as motos têm graves problemas de refrigeração e SUPERAQUECEM em alta velocidade, deixando de operar temporariamente até se resfriarem. Maneirar no acelerador é somente uma medida de PRESERVAÇÃO DOS MOTORES.
No mundo fantástico de “Excitebike” acidentes entre motos em arenas de terra são meros inconvenientes temporários. Quando uma moto encosta a outra, a causadora do acidente – E SOMENTE ELA – cai e fica fora da pista por alguns segundos, até voltar, sã e salva, ao seu trilho à pista de motocross. O mesmo ocorre com relação aos obstáculos – morros, toras, poças de lama, rampas, que exigem certo ângulo de abordagem para serem ultrapassados com sucesso.
Outra característica fora do normal de “Excitebike” está no próprio sistema de jogo. Corridas costumam ser desafios entre os participantes – vence quem chegar ao final antes dos outros. Em “Excitebike” não há competição direta. O objetivo aqui é terminar cada prova em tempo menor que o máximo estipulado. Os outros participantes da corrida são mais obstáculos móveis do que adversários propriamente ditos – o inimigo mesmo é o relógio.
De qualquer maneira: não, não vou falar do gameplay inusitado.
Poderia falar da primeira (e incrível) geração do Nintendo
“Excitebike” é do segundo ano do Famicom – está, portanto, bem no comecinho do ciclo de vida do maior videogame de todos os tempos (segundo eu mesmo, mas também segundo a IGN). Vale lembrar que o Nintendinho, em seu projeto original, não estava tão distante de um computador de 8 bit; afinal, era o Family Computer. Tinha até acionador de disquetes e foi para disquetes que muitos jogos foram lançados.
Os disquinhos eram bem pequenos – 2 polegadas – e não comportavam muita coisa – 128 kbytes. Natural que os jogos produzidos para eles fossem bastante simples. Se olharmos os títulos de 1983, 1984, eles se parecem com versões glorificadas de jogos de Atari. Jogabilidade tela-a-tela, gráficos pouco detalhados, efeitos sonoros bastante simples, músicas bem curtinhas apenas para introdução e foco absoluto no gameplay.
Alguns dos jogos mais bem bolados da história dos videogames pertencem a essa primeira fase do NES. “Balloon Fight” e suas dezenas de táticas numa guerra de balões de passarinhos bicudos. “Ice Climber”, sinônimo de alta ansiedade em sua corrida contra o relógio rumo ao topo da montanha. O quebra-cabeça em forma de demolução de um prédio em ruínas de “Wrecking Crew”. E a palhaçada super divertida de “Excitebike”.
Hoje os jogos são pensados mais como filmes, com personagens carismáticos, efeitos visuais de tirar o fôlego e uma história grandiosa. Na época, videogames eram jogos, somente, e bolados como brinquedos, com função lúdica acima de tudo. Tenho saudades.
Mas mesmo assim, não vou falar dos pioneiros da terceira geração.
Vou é falar da musiquinha, isso sim
Que é inesquecível. Fique com 10 horas de “Excitebike”, o tema, em sua versão remix. De nada.