Nintendo World Cup
Esse Kunio, viu? Além de ser o CEO da Technos (e não da Technos), virou um superstar dos videogames. Apareceu primeiro em 86 com o arcade “Nekketsu Koha Kunio-kun” (a.k.a. “Renegade“) e repetiu a dose em 89, em “Downtown Nekketsu Monogatari” (a.k.a. “River City Ransom“). Qual seria o próximo passo, mais jogos de pancadaria? Não. A Technos teve a brilhante ideia de enfiar o Kunio em jogos de… esporte.
Mas esporte com pancadaria, porque o Kunio, vocês sabem, é esquentadinho.
Olha só a pira: um campeonato de futebol entre colégios. Essa é a trama de Ninte… não! Essa é a trama de “Nekketsu Koko Dojjiboru Bu: Sakka Hen”, que irei abreviar para “Koko”. Em “Koko”, Kunio é o líder do time de sua escola em um animado campeonato contra outros 12 colégios. Até aí tudo bem, mas o futebol praticado é um pouquinho diferente: 6 jogadores de cada lado, não há impedimento nem faltas. Repito: nada. de. faltas. Não raro as partidas terminam com diversos atletas caídos no chão, semi-mortos – é pau puro.
O gameplay de “Koko” é simples e viciante: você só controla um jogador do seu time (presumivelmente Kunio), mas pode pedir ordenar para os colegas controlados pelo computador tomarem certas ações, como passar a bola, chutar ou cruzar. Essas interações acontecem na forma de diálogos muito no estilo de um RPG, em tudo iguais às falas de “River City Ransom”. Muitas vezes você pede a bola e a resposta do companheiro é simplesmente: “não posso”. Em pouco tempo o jogador novato, acostumado a ter sempre o controle da bola em jogos de futebol mais tradicionais, passa a achar natural e até interessante aprender a jogar sem ela, se posicionando no gramado.
Posicionamento, aliás, é tudo em “Koko”. Uma jogada manjada é ficar à frente da área, esperar o colega com a bola ultrapassar o meio-campo, inverter a posição rapidamente e pedir a bola. Antes da bola chegar, é só chutar de voleio e comemorar o golaço. Essa tática fica meio complicada de usar nos times mais fodas do campeonato, e daí que lembramos que temos à disposição cinco super chutes por tempo. São manobras mágicas que, com 95% de certeza, terminam em gol. É, basicamente, o BOTÃO DA APELAÇÃO.
Outra característica engraçada de “Koko” é que nem sempre a partida acontece num gramado. Às vezes chove e há ventos fortíssimos, outras vezes o campo é areia, terra ou simplesmente GELO. Sim.
“Koko” foi, como de costume, levado aos Estados Unidos e devidamente ocidentalizado. No que transformaram o sanguinolento torneio de futebol selvagem entre colégios japoneses? Na COPA DO MUNDO. Claro! Com jogos no gelo e pancadaria comendo solta. As escolas foram transformadas em seleções nacionais e o jogador não é mais obrigado a controlar o time do Kunio (que, aliás, joga nos EUA, não no Japão). A versão americana ganhou um nome óbvio – “Nintendo World Cup” – e uma capa que é uma verdadeira obra-prima da empulhação:
Inocente, não? Eu diria até genérico: um jogador chutando ao gol. Mas olha lá o texto à direita, em vermelho: “futebol realista com um sabor internacional”. Repito: futebol. realista. RE-A-LIS-TA.
Queimada II: A Missão
“Nekketsu Koko Dojjiboru Bu: Sakka Hen” significa, literalmente, “Clube de Queimada do Colégio dos Esquentadinhos: Futebol”. O nome bizarro, super japonês, tem um motivo. Antes de futebol, a Technos botou o Kunio pra jogar queimada, num arcade chamado “Nekketsu Koko Dojjiboru Bu”, cuja versão para NES foi lançada nos EUA com o nome de “Super Dodgeball”.
Em outras palavras: “Nintendo World Cup” era, na verdade, a continuação de um jogo de queimada!
Kunio, o mito, a lenda
A Technos usou e abusou do personagem – a ponto dele ter sido, muito justamente, incorporado ao logo da empresa.
Ele estrelou mais de 15 jogos em diversas plataformas, vários deles lançados bem depois que a Technos quebrou. Chegou até a ganhar um mangá próprio! E vocês aí falando de Mario e Sonic? Kunio é que era o cara!