Crash Team Racing
Associamos videogames ao Japão imediatamente. É uma invenção americana, na verdade, mas desde o Nintendo e a era de ouro dos arcades fica impossível não pensar nos games como uma arte essencialmente japonesa. Mario é japonês, Sonic é japonês, Kunio, Link, Alex Kidd, Samus, Cormano, Snake, Pac-Man, Ash, Mega Man, dúzias de Ryus… todo mundo lá do Japão. Pois que o console que iria dominar os anos 2000, o japonês PlayStation, teve como principal mascote um personagem americano: Crash Bandicoot, o amalucado marsupial criado pela californiana Naughty Dog. Sim, a mesma de “Uncharted” e “Last of Us”!
Esse bicho estranho e carismático aí em cima é um bandicut, um animalzinho da Austrália. Crash estrelou um sem-número de jogos de plataforma para o PlayStation, a começar por “Crash Bandicoot”, de 96. Seu estilo, graças aos gráficos 3D e à visão traseira do personagem, lembra um pouco “Mario 64” – se “Mario 64” tivesse trilhos e caminhos rígidos a serem explorados. O sucesso fez a Naughty Dog lançar três continuações tradicionais – plataformas como o original – e um inevitável jogo de kart – este “Crash Team Racing”, de 99. Uma delícia!
Vamos resolver isso na porrada numa corrida
Mas o que diachos vem a ser um jogo de kart? É uma corrida num carro menor que o normal. Er, sim, mas… não. Game de kart acabou se tornando um gênero especial, à parte, de corrida. Pense num circuito limitado no estilo de “Super Off Road“, mas com uma visão traseira tridimensional como a de “F-Zero“. Agora dê aos corredores a possibilidade de atacar os oponentes com projéteis e armadilhas, e pinte o jogo com cores cômicas, cartunescas. Enfie imensas capacidades multiplayer – quatro, seis, oito jogadores simultâneos! Pronto. O resultado não é somente um jogo de corrida, mas um jogo de kart!
Quem iniciou o gênero foi “Super Mario Kart”, de 92, para Super Nintendo. Seguiram-se infinitas cópias. Uma das que eu me lembro mais vivamente foi uma para PC, “Wacky Wheels”, de 94, distribuída pela Apogee (“Wolfenstein 3D”, “Duke Nukem”…). No mesmo ano saiu “Sonic Drift”, para Game Gear. A própria Nintendo distribuiu uma imitação de “Mario Kart”, “Diddy Kong Racing”, para Nintendo 64. Hoje há karts envolvendo personagens de todo tipo, de Lego e Digimon a Angry Birds e Chaves, passando finalmente por quem de direito: Corrida Maluca, o desenho da Hanna-Barbera. Fora as versões anuais de “Mario Kart”.
Inclusive para os solitários
“Crash Team Racing” engrossou as fileiras dos kart racers e fez um sucesso danado. Ele é mesmo bem superior a “Mario Kart 64”, concorrente mais ou menos direto. “CTR” não tem Mario nem Luigi, mas tem gráficos mais bonitos, maior velocidade e modos de jogo bem mais interessantes que o rival da Nintendo. O modo básico é o “Arcade”, com as corridinhas de sempre em pistas mais complexas, maiores e, em geral, mais dentro de ambientes fechados que as de “Mario Kart” – creio que por influência das cavernas e minas tão frequentes em “Crash Bandicoot”. É divertido, tem desafio e vale jogar. O modo “Arcade” é o clássico para juntar os amiguinhos e dar risadas por algumas horas.
Se você é mais do tipo ~forever alone~, a Naughty Dog não se esqueceu de você. Além do tradicional “Time Trial” e suas corridas contra o relógio, ela enfiou em “CTR” um modo chamado “Adventure”. É meio complicado de descrever, mas pense numa gincana envolvendo carros e corridas eventuais. Com um pretexto bobinho, você tem de passar por todos os circuitos do jogo mas não para vencer disputas, mas em desafios envolvendo a coleta de objetos como jóias e estatuetas. O meu desafio favorito é o “CTR Challenge”, uma corrida em que não somente é necessário vencer, mas coletar as três letras C, T e R, que estão espalhadas em lugares bem escondidos nos cenários. Não raro o jogador precisa desviar do curso natural da prova e perder tempo caçando as letras – tempo precioso que deve ser recuperado durante a corrida.
O modo “Adventure” é geralmente a última coisa que a pessoa brinca em “CTR” e, muito provavelmente, aquela que a vai manter no jogo por mais tempo. Penso em “Super Mario Kart” e no quanto ele – apesar de muito divertido e tal – consegue cansar fácil, principalmente quem joga sozinho. Em “Crash Team Racing” a história é previsível: algumas horas nas corridas do modo “Arcade”, uma testadinha ou outra no “Time Trial” e dezenas horas a fio no modo “Adventure”.
Essa bossa, mais a própria qualidade do gameplay, mais o carisma inegável de Crash, o marsupial, torna “CTR” um jogo memorável, destacado da multidão de karts cômicos que abundam o mercado desde 92. E é pouco lembrado. Então fica o recado: dê uma chance a “Crash Team Racing”!